Já falamos em outros posts da Escola Alemã e da Escola Inglesa. Falamos das cervejas mais maltadas e apuradas, e de secas e amargas. Agora, vamos conhecer a Escola Belga, que consegue se diferenciar e ter dezenas de estilos próprios num território tão pequeno, tradição que se estende também pela Holanda e norte da França.
Mais recente que a Escola Alemã e a Inglesa, ela se destaca pela criatividade e o sabor complexo. Por lá são produzidas cervejas de alta fermentação, adicionando ingredientes diferentes, como semente de coentro, casca de laranja, anis e canela, entre outras especiarias, açúcares e outros insumos bastante inusitados.
Seu teor alcoólico, em geral, é o mais elevado, muitas vezes passando dos 10%.
Características das Cervejas Belga
Na Bélgica, tudo aquilo que pudesse agregar sabor ou valor a cerveja era válido ser experimentado. Ou seja, as cervejas poderiam ser feitas com diversos tipos de cereais, podiam ter adições de frutas e mel, podiam além do lúpulo, receber outros temperos.
No caso das Witbiers, por exemplo, é adicionado além do lúpulo, cascas de laranja e sementes de coentro. Essas cervejas podiam conter açúcar e caramelo na sua formulação e algumas delas não eram nem inoculadas com fermento, eram simplesmente deixadas para serem fermentadas espontaneamente por micro-organismos presentes na atmosfera.
A Bélgica e suas cervejas são marcadas pelos seus belos monastérios ou abadias cervejeiras, cujos muitos deles até hoje produzem cerveja como produziram por séculos. Nesses monastérios foram formuladas muitas das mais tradicionais cervejas produzidas até hoje, como as Witbier, Blond, Dubbel, Tripel e Quadruppel, todas elas cervejas de alta fermentação (Ales) e normalmente bastante condimentadas e excêntricas.
Tradição dos monastérios
A complexidade das cervejas belgas não vem simplesmente do fato de na Bélgica se poder usar praticamente qualquer ingrediente na produção da cerveja, vem das cepas e blends de leveduras que as cervejarias e monastérios por séculos cultivaram e guardaram a sete chaves.
Como a maioria dos monastérios que produziam cerveja se isolava da civilização e mantinha os conhecimentos cervejeiros dentro do monastério quase como um segredo, cada monastérios propagava sua própria cultura de leveduras, cada uma delas com características diferentes umas das outras encontradas em outros monastérios. O que acarretava em cervejas completamente distintas feitas nos diferentes monastérios.
Pode-se afirmar que o maior segredo das cervejas belgas está nas leveduras. São elas as responsáveis pelos sabores distintos das cervejas que são produzidas por lá.
Um mosto produzido para se fazer uma Bock, por exemplo, se ao invés de a inocularmos com levedura Lager, inocularmos com uma cepa de leveduras belga, ela não será mais uma Bock (pois não foi fermentada com levedura Lager), mas terá um perfil de sabor bastante parecido com uma Belgian Dubbel, porém com traços mais torrados, simplesmente pelo fato de ser fermentada com uma levedura belga.
Escola Belga e Cervejas de Fermentação Espontânea
Uma peculiaridade das cervejas belgas são as Lambics, Geuzes e Krieks, que são cervejas de fermentação espontânea. Nesses tipos, o mestre cervejeiro não inocula a levedura que irá fermentar a cerveja, ele simplesmente deixa que a natureza faça seu trabalho.
Após resfriar o mosto recém-pronto, o cervejeiro despeja-o em grandes “piscinas” rasas dentro da cervejaria e abre a janela, literalmente, para que os micro-organismos presentes na atmosfera entrem em contato com o mosto para então fermenta-lo.
Essas cervejas, por terem sido fermentadas por uma microflora não padronizada (como acontece na maioria das cervejarias), têm sabores bem distintos e normalmente ácido, devido à atuação de bactérias produtoras de ácidos orgânicos.
Dentro do mundo das cervejas belgas, há sempre algo novo a se experimentar e nem sempre uma cerveja belga se enquadra perfeitamente a um estilo existente.
Na Bélgica são produzidas as cervejas mais cultuadas do mundo: as trapistas, feitas nos monastérios por monges. Os estilos mais comuns belgas são: Belgian Blond, Witbier, Belgian Dark Strong Ale, Strong Golden Ale, Tripel, Dubbel e Quadruppel.
Os sabores frutados das cervejas locais são marcantes por conta das leveduras utilizadas, mas é também comum a utilização de frutas nas cervejas, principalmente nas cervejas Lambics (cervejas de fermentação espontânea) em tanques abertos.
Curtiu saber mais sobre a Escola Belga? Não deixe de conhecer também a força e a tradição da Escola Alemã!
3 thoughts on “Escolas Cervejeiras Tradicionais: Escola Belga”
Sou Somelier de cerveja e gostaria muito de conhecer mais sobre escolha belga
Olá, Felipe. Sou um grande apreciador de cervejas belgas e fiz seu curso de Homebrewer há alguns anos atrás. Sigo suas dicas até hoje. Ótimo curso por sinal. Lembro-me de ter ficado encantado com a Mariwit Grand Gru, sua Saison. Fiquei triste ao saber que você parou de produzi-la. Gostaria de saber se seria possível você me fornecer a receita para tentar reproduzi-la. Sem fins comerciais. Faço sempre poucos litros apenas para mim e amigos. Entenderei se não for possível. Um grande abraço. Thiago Rocha